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sábado, 6 de novembro de 2010

Noite escura

Na noite escura medito
Sobre o que a luz não mostrou
Vejo o que meus olhos não viram
E o que a minha alma não achou

Reflicto sobre tudo
O que a luz escureceu
Na noite vejo com a alma
O que o dia me escondeu

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Poema vazio


Escrevo este poema vazio
Pelo prazer de o escrever
É noite e está frio
Não tenho nada p’ra fazer

Escrevo nada e não paro
Mesmo sem nada para dizer
Mas vou escrevendo e me deparo
Com o ridículo do que estou a fazer

Mas agora que o escrevi
Sabe olhar bem para ele
Não o pensei, só o senti
E às vezes vejo-me nele

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Terra


Amigo vou contar-te um conto
Que te vai arrepiar
Um conto que é um pesadelo
Que à noite me vem assombrar

Havia uma Terra de rios vermelhos
De tanto sangue derramado
De lutas inúteis e tristes
Entre amigos que se tinham amado

Havia fome e escaravelhos
A passear sobre os famintos
Sem ninguém querer saber deles
A beberem brancos e tintos

Havia choro, havia gritos
Que estremeciam as casas
E dos andares de cima
Nem espreitavam pelas vidraças

Ninguém sabia quem era
Nem o que vinha fazer
Mas eram quase todos egoístas
Pelo ouro sujo trocavam viver

Havia mães matando filhos
E filhos matando pais
Eram todos irmãos
Eram quase todos iguais




Nada se sabia sobre o caminho
Que havia percorrer
Não se sabia se se existia
Ou se se ia desaparecer

Os habitantes desta Terra
O destino sufocava
Sem puderem mudar de rumo
Rumo ao abismo caminhavam

Que inferno dirás tu
Sobre o que estou a contar
Sufoca-nos a garganta
Só de imaginar

Agora que imaginaste pára
Pára para pensar
Olha e vê a realidade
Sentes a garganta a sufocar

Acorda e vê também
O pesadelo que eu vi
Esta Terra não é sonho
Esta Terra é aqui

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Medo do escuro


Tenho medo do escuro
Tenho medo de não ver
Andar a apalpar, inseguro
Esvaziar-me sem querer

Estou numa sala rodeado de ar
Ar que a luz não penetra
Observo o quarto escuro
Mas não vejo mais que a porta aberta

Está aberta mas nada se vê
Apara além da dobradiça
A luz chega mas não volta
Até parece ter preguiça…

Estou nesta sala de estar
De uma só porta e sem janelas
Sem telhado, sem luar
Sob a luz apagada das estrelas

A luz dos candeeiros pendurados
Que não se sabe de onde vem
Chega a porta do quarto
E nem a porta se vê bem

Vou caminhando para lá
Sempre com medo de entrar
Não com medo do que lá está
Mas do que possa lá não estar

segunda-feira, 1 de novembro de 2010


No dia do Julgamento
Vejo o céu a partir-se
De sangue e de fogo
A Terra há-de cobrir-se

Fogos que nascem do nada
Terramotos paranormais
Aflição permanente
Para os pobres mortais

Dor, sangue e choro
Fim da fome, fim da guerra
Vulcão a explodir o demónio
E Miguel a encerrá-lo na Terra

Não temas o fim do mundo
Que eu anseio por ele
Deixarei de ser vagabundo
Viverei p’ra sempre n’Ele

Vejo-me na confusão
Do mundo e Deus a destrui-lo
Com os olhos vê a razão
E no caos me sinto finalmente
Tranquilo

domingo, 31 de outubro de 2010

Já fui poeta de amores perdidos

Já fui poeta de amores perdidos
Escrevia então cartas vazias
Cartas em que o meu coração cheio
Tentava escrever o que sentia

Mas o coração de cheio que estava
Passava o tempo a bombear
E quanto mais queria menos falava
Dizia palavras sem falar

Depois de bombear muito
E se sentir esmagado
Está mais calmo agora
Mesmo sem estar esvaziado

Agora isolo-me dele
Lembro-me do que foi
Escrevo bem o que ele não sente
E o que já não lhe dói

Sonho incessante porque me chamas?

Sonho incessante porque me chamas?
Quando eu estou sossegado
Ouço-te, vou ter contigo
Mas estás sempre do outro lado

Fascinas e fazes sentir
A frustração desesperada
Prometes-me tudo e só me dás
Pedaços de tudo que parecem nada

Mas depois de te chorar
Agora isolo-me de ti
E vejo que trabalhaste
Ensinaste-me algo ainda assim

Por via do choro e esmagamento
Deus te enviou até mim
Isolado a Ele agradeço
Porque sei que tem de ser assim
P’ra mim...

sábado, 30 de outubro de 2010

Incessante Tic-Tac

O tic-tac do relógio
Tiquetaqueia sem parar
E um minuto se passou
Só de para ele olhar

Pára tic-tac, pára!
Que já me estás a sufocar
Por mais que tente não consigo
Não te consigo parar

Peço-te tic-tac, peço-te
Não fujas tanto de mim
Dói-me tanto ver-te
Passar tão depressa assim


(Passas depressa mas bates fundo
Na minh'alma como a badalada

Vais correndo e levas tudo
Sem que a gente dê por nada)

Passas depressa mas bates fundo
Na minh'alma como o badalar
Vais correndo e levas tudo
Sem que ninguém o possa evitar

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ó amor que eu perdi

Ó amor que eu perdi
Perdi-te mas ainda vives,
Ainda vives em mim...

Bateste-me e eu caí
E mesmo assim não consegui
Não consegui pedir-te
Que em mim tivesses fim...

A tua cara não tem objecto
Objecto que se desvirtuou
E sem ter cara tantas caras é
Que o objecto se fragmentou

É aquela! É a outra!
Das nenhumas que eu amo
Não as amo só as sigo
Nem sequer amor lhe chamo...

Só como caras elas existem
No objecto fraccionado
O amor entristece-se, divide-se
Em inveja, obsessão, amor inalcançado

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Toca o piano na sala

Toca o piano na sala
Com os alunos a ouvir
A professora dá a aula
Eles só querem sair

O aluno da mesa de trás
Foi para casa brincar
Nesse dia a sua irmã
Aprendeu a tocar

Passados aqueles anos
Ela foi-lhe ensinando
Sem ele saber que aprendia
Enquanto ela estava tocando

Fala-se do toque suave
Do timbre do instrumento
Falava-se e ele ouvia
E depois falava atento

A Professora foi lá ouvir
Ouvi-lo a ele falar
E sem saber que aprendia
Ensinaram-lhe a gostar

Tu não gostavas de ser como eu
Porque ninguém to ensinou
Se soubesses gostarias
Eu sei porque o sou

O gostar também se ensina
E eu gosto de ser assim
Gosto porque me foi ensinado
Ensinei-o eu a mim

Isolado não é deprimido

Isolado não e deprimido
É aquele que se revê
Se não se isolasse não sentia
Não sentia aquilo que é

Isola-se e junta as gotas
Que caem do orvalho açucarado
Gotas que encontram
Sentimento abandonado

Sentimento que já foi
Agora só lhe resta a memória
O prazer de o lembrar
De lhe dar uma história

Isolado senti
O que nunca pensava
Quebrei a montanha
Que entre mim a verdade
Estava

Sentado no trono da minha cama

Sentado no trono da minha cama
Vejo a caneta escrever
Sinto a sorte que é a chama
Que alegre vejo arder

Gosto do seu calor
E de a poder sentir
Mas ao mesmo tempo
Vê-la suave fluir

A chama quentinha
Que sabe a colo de avó
Mas sabe a teoria de Descartes
E o meu feliz é feliz
    Só

E vou sentir eu a ver-me
Sozinho rodeado de gente
Rei do meu trono sem subditos
Rei que pensa e sente

És feliz sem o seres

És feliz sem o seres
Mas pensas que o és
Andas com a cabeça
E pensas com os pés

Mas achas sem achar
Porque se achasses não achavas
E então estarias a pensar
E infeliz te tornavas

Eu tento ser feliz
Mas para o ser só o fui
Não o sou como tu
Felicidade em mim não flui

Mas porquê beber emoção?
Fluir alcool para se satisfazer?
Abre a gaiola à razão
Pássaro que não se pode ver


O segredo é não deixar fluir
Apertar o conta gotas
E entre cada gota pensar
Desapertar, saboreá-las todas

Por isso sem tentar ser
Sou mais feliz, até!
Porque melhor que ser feliz
É saber que se o é!

Se queres ser Feliz

Se queres ser feliz
Não o tentes ser
Finge que não queres
Só assim o vais saber

Vai pela estrada velha
Aquela mais complicada
Mas antes ganhar calos
Do que ter tudo sem ganhar nada

Nem ter tudo se chama
Porque nada se tem
Mas só sabes que estas na lama

Se vires de onde ela não vem

A Loucura da Razão

A Loucura da Razão


A tua felicidade
Não é como a minha
A tua vive com as outras
A minha vive sozinha

A tua é pura
E veio de si
A minha parece loucura
E veio de mim

Sou louco para eles
Mas se não for para ti
Então é sinal que podes
Ter o que tenho em mim

Vem ser louco comigo
Louco consciente
Paradoxo desfeito
Alegre que sabe que é contente